quinta-feira, 22 de outubro de 2009

LANÇAMENTO!!!




Já se encontra disponível meu mais novo folheto com duas poesias de tom humorístico e sarcástico "Compra de Voto é Bom Demais" e "Chamego com Viúva"!



O folheto tem a capa elaborada pelo eminente cartunista Eliabe Alves Davi, ao qual, desde já agradeço imensamente!!!

DIA DOS PAIS


Estávamos vivenciando um sábado normal, daqueles que a tarde cai insuflando na gente uma nostalgia arrebatadora. O sol se foi e Paulo e eu viramos os óculos para cima da cabeça, fazendo com que os olhos demorassem alguns segundos a se acostumar com a claridade terna de fim de tarde. Guto preferiu colocá-lo na gola da camiseta azul celeste. Zeca não tinha o mesmo privilégio. Seus oito graus de miopia não permitiam tal ato a não ser na hora de dormir ou tomar banho. Em cima da mesa, dezesseis garrafas de cervejas e os copos suados pelo degelo da bebida que esquentava, já denunciavam o tempo e o alto grau de embriaguês em que nos encontrávamos.
Paulo nos incitou a fazer planos para o dia seguinte, mas logo foi interrompido por Zeca.
— Comigo não contem! — Exclamou antes de se explicar — Amanhã é dia dos pais e vou ver meu velho em Acari, passar o dia com ele.
— Também quero ver o meu amanhã, vamos nos reunir para ir ao sítio. A família inteira. Se quiserem aparecer lá... — Falou Guto deixando-nos um convite sem pretensão.
— Vixe! Nem lembrei! Também pudera, nunca tive pai mesmo! Meu pai me abandonou na barriga da minha mãe e até hoje, confesso que não fez um “pingo” de falta. Nunca lembro o dia dos pais. É que dia mesmo?
— Não tem data definida não Paulo! — Expliquei — É sempre no segundo domingo do mês de agosto.
Depois de todo o desabafo de Paulo, Guto e Zeca começaram numa batalha. Cada um contava uma história de heroísmo do pai. Uma viagem juntos. Até mesmo surras e mais surras que levaram no tempo de pequeno, principalmente Zeca que fora mais travesso nos tempos de meninice e teve um pai menos intelectualizado.
Eu, ao contrário de todos, nada dizia. Permanecia ouvindo, tomando a cerveja e vez por outra passando o dedo no suor do copo que ensopava o guardanapo embaixo do recipiente. No outro dia, nove da manhã, saí da missa, passei na floricultura, comprei um vaso com orquídeas e dirigi-me ao endereço do meu pai, onde residia há 23 anos: Quadra 11. Rua dos Jardins. Túmulo 12. Pus o vaso com carinho sobre a lápide, conversei um pouco com ele e agradeci pelos únicos três anos que passamos juntos no tempo em que eu nem sabia desejar um “feliz Dia dos Pais”.