sexta-feira, 3 de abril de 2009

UM OLHAR POR CIMA

Chegou ao trabalho, pôs as mãos na cabeça como quem segura o mundo que ameaçava cair. Pensou no que tinha a fazer, uma pilha de documentos para arquivar separando-os por período. Foi na cozinha, pôs um café quente, o cheiro adentrou pelas narinas, sentiu-se enjoado, mas de um trago só virou a pequena xícara. Pensou em acender um cigarro, mas não aguentava sentir nem o cheiro. A ressaca lhe comia o juízo, embrulhava o estômago e fazia-o suar como um condenado.
Saiu fora. Tomou um ar fresco. Pensou em ir embora e abandonar tudo para o outro dia. Olhou os pássaros fora, na mangueira em frente.
“Olha eles! Não precisam trabalhar e mesmo assim comem, não preciso estar nessa espelunca!”
Entrou novamente, desligou o computador falou para a recepcionista que só voltaria no outro dia. Abriu a porta do seu carro, deu a partida e ligou o ar. Agora sim. Um frio gostoso lhe corria o corpo. Fez a manobra e ao dar a marcha à ré bateu levemente no poste. “Merda que porra de dia esse meu!” falou chutando o pneu depois de constatar um pequeno arranhão na pintura do seu carro que acabara de comprar à prestação.
Foi então que Douglas viu um senhor passando, maltrapilho, trajava camisa branca (mas amarelada pelo tempo), dois botões apenas deixavam ver o peito com cabelos esbranquiçados, uma pele queimada pelo sol. Uma calça Jean’s também velha e dobrada abaixou para que não arrastasse a barra no chão. Chinelo de dedo também velho, assim como o homem, assim como a camisa, assim como a calça. A barba, também amarelada, dava-lhe a certeza de que se tratava de um fumante e não muito higiênico senhor. Devia ter uns cinquenta anos ou menos, mas tinha a aparência de um homem já muito desgastado pela vida, cansado e sofredor.
Douglas estacionou novamente o carro, entrou, ligou novamente o computador, a cabeça ainda doía muito.
- Érica, ligue para a farmácia, peça um analgésico dos bons por favor!
- Mas o senhor não falou que só voltaria amanhã?!
- O amanhã já chegou! – Falou sorrindo, Douglas que nunca fora essas simpatias todas.
Érica sorriu também e saiu para o telefone. Douglas agradeceu pelo emprego que tinha, pela sua juventude, por seu carro, mesmo com a arranhadura e começou fazer seus serviços!
É preciso ver pessoas menos privilegiadas que a gente para assim poder dar valor as coisas que temos!

2 comentários:

Cláudia Magalhães disse...

É... O ser humano é assim mesmo! Parabéns, amigo! Gostoso te ler. Beijos.

Unknown disse...

Amei o olhar por cima, menino,ô cabeça privilegiada!!!!! parabéns,
depois vou ver os outros, bjs Glorinha