sexta-feira, 30 de maio de 2014

CHAMEGO COM VIÚVA

CHAMEGO COM VIÚVA



Me lembro bem quando cheguei
Aqui no Rio Grande do Norte
Repare bem minha moleza
Se meter logo com morte
Chamegar com mulher de defunto
Que quase eu me ajunto
Mas eu ia me lascando
E Num foi falta de consêi
O meu grande aperrei
Que eu tava ali entrando

Chegando na tal cidade
Pequena que só um bozó
Conheci uma viúva
Do finado Zé Loló
Uma viúva arrumada
Ô bichona calculada
Igual mesmo um violão
Me acendeu uma pilha
Vou formar minha família
Nesse pedacinho de chão

Uma galegona alta
Que tinha as pernas de mourão
Os olhos da peste azul
Os peito era dois mamão
A bunda era de sobra
O andado de uma cobra
Quando anda em areia quente
E aquele mesmo olhar
Era de arrebentar
O coração de muita gente

Tinha seus quarenta anos
Mas parecia ter dezenove
Como aquelas mocinha
No tempo que se desenvolve
Tava bem enxutinha
Parecendo menininha
Que ainda nem cresceu
E num é que a safada
Numa atitude danada
Veio se engraçar logo d’eu

Zé João disse cuidado
Que esse povo é troço quente
Num se abestai não
Com esse tipo de gente
Pois é muito perigoso
Tem que ser muito corajoso
Mostrar a valentia que tem
Que o finado Zé Loló
Em termo de catimbó
Nunca perdeu pra ninguém

O finado Zé Loló
Catimbozeiro afamado
Falava com tudo quanto é bicho
E assim era ajudado
E disse que mesmo falecido
Quando ele era ofendido
Ainda assim aparecia
Acompanhado de dois cão
Pra tirar satisfação
Das coisas que acontecia

E eu doido pela galega
Num levei isso a sério
Disse que lugar de morto
Era enterrado no cemitério
E sem acreditar na conversa
Armei logo uma peça
Que caía como uma luva
E sem contar historia
Fui naquela mesma hora
Conversar com a viúva

E num é que as paquera
Era até bem sucedida
O tempo se passava
Ela cada vez mais atrevida
E maiquemo pra se encontrar                                                              
Na casa dela e namorar
Do jeito que nós quisesse
Ficar a noite inteirinha
Fazendo uma farrinha
A noite inteira que Deus desse

Mas Galego de Chico Duda
Me disse: isso num tem futuro
Num é por maldade minha
Se quiser eu inté juro
Mas é que o marido dela
Se vir você com ela
É capaz de dá-lhe uma pisa
É que mesmo no inferno
Sem domínio do eterno
O danado casa e batiza

Zé Loló era um caboclo
Preto igual mesmo um tição
Tinha a cabeça branca
Que nem capuche de algodão
E bastava bater palma
Pra aparecer duzentas alma
O homem tinha muito poder
E por ser o seu camarada
Pra lhe tirar da cilada
To avisando isso a você

Repare que ela é bonita
Mas nunca arranja ninguém
Os cabra num chega nem perto
Por causa do medo que tem
E eu nos meus aperrei
Num tomei aqueles consei
Que ele tava a me dar
De noite todo arrumado
Fui pra o lugar marcado
Com a viúva me encontrar

Chegando em sua casa
Bati palma e entrei
Ela ainda tava no banho
E eu na cama me deitei
E ficamos conversando
Só de longe namorando
Eu de cá ela de lá
Ela dentro do banheiro
Eu sentido só o cheiro
Do seu corpo a perfumar

E de tanto conversar
Eu fiquei meio distraído
E escutei assim pertim
Um negocio que nem gemido
Senti um cheiro de lama
Que parecia ser da cama
E fui olhando assim de lado
Eita eu quase me caguei
Pois na cama avistei
Um negão véi estirado

Arrepiei o cabelo da nuca
A garganta entalou
E o caboclo bateu pra riba
Pelas costela me agarrou
Os olhos dele era vermei
Do medo que tive me soltei
Danei o rabo no chão
Quando eu quis fugir
Doido pra sai dali
O caboclo bateu as mão

E me lembrei dos consêi
Que o galego tinha me dado
Me arrependi de tudo
Quanto tinha aprontado
Com as palmas de Zé Loló
O troço ficou pior
Que só buzina de corneta
Agora só deu pra eu
Naquela hora apareceu
Mais ou manos dez capeta

Valei-me Frei Damião
Foi a palavra que saiu
Com o poder desse santo
Bem uns três inda caiu
Mas Zé Loló num sintiu nada
E deu-me uma burduada
Sai de cata cavaco
Procurano me segurar
Um cantim pra me escorar
Mas caí que nem um saco

Quando me levantei
Três cão bateu em riba de mim
Zé Loló chegou pra perto
Disse desse jeito assim:
Você por acaso tá louco
Mexer com muié de caboco
Preto véi do sertão
Que atrevimento seu
Pegar o que é meu
Sem a minha permissão

Dei em n’eu de incher o bucho
E cada tapa oi que eu levava
O meu uvido zunia
E minha perna intransava
Depois do siviço terminado
O cabôco inda zangado
Fez por lá uma oração
Me benzeu de riba a baixo
E no mei dos meus pinhaço
Deu a ultima tapa com a mão

Pegou a viúva dele
Butou dentro duma mala
——Essa aqui eu vou levar
pra butar ela na escala
e você vai sofrer
a vida inteira até morrer
disse olhano para mim
Depois o cabôco sumiu
Deu um pipoco e explodiu
Mas ainda num era o fim

Se arrependimento matasse
Hoje eu tava de osso branco
Hoje não posso negar
Eu tenho que ser muito franco
Que o cabôco Zé Loló
Em termo de catimbó
Era muito articuloso
E me arrependo dos consei
Que eu de besta num tomei
Que ele era poderoso

Nunca mais eu quis saber
De mexer com o que tá quieto
E se quisesse num podia
Vocês pode ficar certo
Que daquele dia pra cá
Depois de Zé Loló rezar
A oração que ele não erra
Só um desgosto me consome
É que eu nunca mais fui home
Pra muié ninhuma na terra

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